segunda-feira, 28 de maio de 2018

O que fazer com nossos idosos?

Por Joyce Capelli

Cada vez mais há perspectiva de maior longevidade para os seres humanos. Nas últimas décadas, a expectativa de vida aumentou em quase todos os lugares do mundo.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a população das Américas ganhou 16 anos de vida a mais, em média, nos últimos 45 anos – ou seja, quase dois anos por quinquênio. Agora, uma pessoa nascida no continente pode viver até 75 anos, quase cinco anos a mais do que a média mundial. No Japão, país com maior expectativa de vida no mundo, as pessoas podem esperar viver 83,7 anos. Uma mulher japonesa hoje tem uma expectativa de vida de 87 anos, em comparação com 81 anos para os homens.

Os ricos têm muito mais acesso à meta da longevidade que os pobres |  Foto: Freepik
Chegar aos 100 anos de idade não será fácil, mas já não é tão inesperado quanto antigamente. O problema é que estudos revelam que os ricos têm muito mais acesso à meta da longevidade que os pobres. Nos EUA, por exemplo, o 1% mais rico das mulheres americanas vive 10 anos mais do que a população feminina mais pobre, segundo um estudo de 2016 publicado no Journal of American Medical Association. Para os homens, a desigualdade entre americanos mais ricos e mais pobres é de quase 15 anos.

O ideal seria diminuir esse contraste social entre ricos e pobres no acesso aos avanços para uma vida mais longa e, principalmente, saudável. Afinal, não basta haver uma população que vive mais se for em condições precárias e com péssima saúde.

E este é um perigo real e imediato, veja: estudo divulgado pela Fundação Internacional de Osteoporose (IOF, sigla em inglês) revelou que o número de brasileiros com osteoporose deve crescer 32% até 2050. Hoje a longevidade já acentuou o aumento de incidência de fraturas nos idosos e a ingestão de cálcio está abaixo do recomendado.

Um ponto importante na longevidade e qualidade de vida que é defendido pelo Instituto Melhores Dias (organização da sociedade civil que dirijo) é de que precisamos rever a forma como vemos e inserimos os nossos idosos. Reconhecer a potencialidade laborativa dos idosos, assim como sua saúde, energia e criatividade, é fundamental para uma sociedade mais produtiva e sábia. Na China e no Japão, velhice é sinônimo de sabedoria e respeito.

Uma pesquisa realizada entre fevereiro e março de 2018 pela Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP) com apoio da BrasilPrev e da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) em 140 empresas brasileiras, aponta que 75% das empresas ouvidas preferem contratar jovens a profissionais com 50 anos de idade ou mais nas mesmas condições técnicas e 88% não contam com campanhas específicas para a inserção desse público em seus quadros.

As empresas veem os mais velhos como pouco criativos e com baixa adaptabilidade às novas tecnologias, além de os considerarem onerosos nos custos da assistência médica e odontológica.

O único ponto positivo em relação a igual pesquisa realizada há cinco anos é que as empresas aumentaram ligeiramente a percepção positiva com relação aos profissionais mais velhos considerados mais comprometidos no trabalho e com maior equilíbrio emocional para enfrentar as situações em comparação aos jovens.

Precisamos transformar o envelhecimento da força de trabalho em pauta mundial. Mudar o estigma de que um idoso já está desvinculado social, cultural e economicamente, modificar o rótulo e a etiquetagem da inflexibilidade perante as mudanças, da improdutividade laboral e da falta de conhecimento tecnológico.

De acordo com relatório sobre emprego nos Estados Unidos, 19% das pessoas acima de 65 anos estavam trabalhando pelo menos meio período no primeiro trimestre de 2017.

De acordo com levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016, o Brasil possuía 4,5 milhões de idosos empregados, com possibilidade de ser um contingente ainda muito maior.

O Instituto Melhores Dias, consciente da necessidade de inserção dos idosos, desenvolve programas que elevam o bem estar e a qualidade de vida dos idosos, nas áreas de saúde, cultura e lazer.

Não é diferente na Europa. Em setembro de 2017, cerca de 50 países que fazem parte da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (Unece), tornaram-se signatários da Declaração de Lisboa, na qual se comprometem a desenvolver estratégias que valorizem a experiência das pessoas mais velhas, bem como a promoverem esquemas flexíveis de reforma que lhes permitam permanecer mais tempo no mercado de trabalho.

Nesta Declaração, os países reconhecem que as políticas relacionadas com o envelhecimento são uma "responsabilidade partilhada e devem envolver os governos, o setor privado, os parceiros sociais, a comunidade científica e, em particular, as organizações não governamentais para idosos".

Vamos nos engajar nessa proposta?

*Joyce Capelli é sócio-fundadora e presidente do Instituto Melhores Dias, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, registrada como OSCIP, que há 25 anos trabalha para melhorar a qualidade de vida das pessoas.




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