A psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental, Tatiane
Paula Souza, afirma que o ato de mentir é considerado um padrão disfuncional de
comportamento associado à insegurança, como forma de compensar uma aceitação no
meio em que a pessoa vive. Transcendendo o comportamento comum, o hábito de
mentir pode atingir o nível de Mitomania, nome dado à tendência patológica da
mentira, popularmente conhecida como síndrome de Pinóquio.
Hábito de mentir pode atingir o nível de Mitomania, nome dado à tendência patológica da mentira, popularmente conhecida como síndrome de Pinóquio | Imagem: reprodução |
"Motivos" para mentir
Pessoas com baixa autoestima podem reproduzir este
comportamento, para lidar com um complexo de inferioridade;
No caso de haver vícios, sejam lícitos ou ilícitos, pode ser
uma forma de esquivar de cobranças sociais;
Se não sente-se aceito no ambiente social, se apresenta como
um método de aceitação.
No contexto profissional, em situações em que a área de
atuação requer a habilidade de persuasão, como a área de vendas, muitas vezes o
profissional pode se dispor a potencializar as informações que possui para
obter sucesso. A psicóloga afirma que "nestes casos não se trata de
mentir, propriamente. Como analogia, o camaleão não se camufla para mentir, mas
sim por sobrevivência no meio em que ele habita".
Porém, Tatiane alerta para este comportamento quando o
assunto é relacionamentos interpessoais. "A partir do momento em que
sujeito se relaciona com outras pessoas através de uma personalidade fictícia
envolto de histórias que fogem da realidade, com certeza teremos sérios
prejuízos na qualidade do vínculo. Uma vez identificado o estereótipo da pessoa
que mente como pessoa não confiável, fica complicado manter relações
duradouras, já que caracteriza uma quebra de confiança e, por consequência,
distanciamento natural das pessoas próximas, culminando em isolamento
social".
Quando a pessoa se enrola em uma mentira que se desdobra em
outras, as complicações podem se estender para consequências mais severas.
"Ao usar de mecanismos fictícios como método de aproximação das pessoas e
o indivíduo passa a acreditar nas próprias histórias, cria-se uma realidade
paralela. Trata-se, inclusive, de uma linha de funcionamento bastante perigosa,
uma vez que à medida que o mentir torna-se parte do comportamento da pessoa,
poderá levá-la à depressão e a questionar a própria vida", ressalta a
especialista.
Mitomania: a mentira por compulsão
O mitômano acaba por mentir em todas as situações da vida, e
passa a ter esse comportamento como padrão, bem como parte de sua identidade. A
especialista em saúde mental afirma que "esta pessoa é facilmente
estigmatizada como não confiável e desencadeia sérios prejuízos sociais. Apesar
disso, se mantém com o mesmo comportamento nas relações e na vida, mesmo diante
dos prejuízos".
Tatiane explica que nosso cérebro possui uma área
responsável por registrar as lembranças boas e ruins, a amígdala, funcionando
como uma espécie de freio natural em situações sociais em que estamos diante de
algo prazeroso ou aversivo. Conforme o sujeito acredita nas mentiras como
realidade e não há o sentimento de culpa associado, o freio natural deixa de
ser ativado e passa a gravar a mentira como padrão natural.
Traços que podem identificar um potencial
mitômano
Inventa histórias fantasiosas e, quando desmascarado, emite
outra mentira para suprir a situação de flagra, se desdobrando em longas
histórias sem fim e sem evidência de realidade;
O mitômano se descreve sempre em destaque no desfecho final
das histórias;
A pessoa tem baixa autoestima e pode apresentar transtornos
psiquiátricos;
Usa da mentira como mecanismo de defesa, distorcendo fatos
sobre si mesmo e sobre o mundo, podendo também criar personagens.
A Mitomania pode ser tratada com psicólogos especialistas em
saúde mental, aplicando técnicas de psicoterapia eficazes para capacitar o
indivíduo a identificar os comportamentos que antecedem a mentira compulsiva.
Assim, a pessoa deverá saber lidar com as atividades de sua vida diária,
desenvolvendo um novo repertório de comportamentos mais saudáveis e eficazes
nas situações em que contextualizava a mentira.
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