quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Giuseppe Verdi

*Por Armando Correa de Siqueira Neto

Era possível ouvir apenas os cascos dos cavalos que puxavam a carruagem na qual seguia um dos gênios musicais mais aclamados em vida, cujo sucesso lhe rendera fama, prestígio e fortuna, ninguém menos que Giuseppe Verdi seguia em direção ao último adeus naquela cidade que o inspirou a sonhar com a apresentação de suas óperas, Milão, notadamente no teatro Alla Scala - construído por desejo da imperatriz Maria Tereza da Áustria. A seu pedido, ninguém seguiu o cortejo madrugada adentro, o silêncio, em colossal contraste à vida musical que o acompanhou, fora testemunha daquela madrugada fria de 27 de janeiro de 1901, apesar dos incontáveis fãs a se esgueirar a meia distância, próximos às colunas e prédios das ruas encobertas pela névoa que participou de famoso desfecho.

De temperamento introvertido, Verdi, nascido em 10 de outubro de 1813, na pequena cidade italiana de Roncoli Verdi, na província de Parma, ganhou de seu pai uma espineta (instrumento de teclado e corda), após demonstrar que se interessava por música. Carlo Verdi (1785-1867), um homem simples e inteligente, viu em tal gesto a chance de estimular seu filho a ganhar o mundo e a encontrar a felicidade através da realização pessoal e profissional. Era um proprietário de osteria, um restaurante camponês, cuja mãe, Luigia Uttini (1787-1851) preparava os pratos para os clientes. Em pouco tempo o menino já tocava com maestria melodias que causavam orgulho aos pais. Iniciou seus estudos em escola próxima, mantendo um pé nas letras e nos números e outro nas partituras e nas composições. Aproximadamente com dez anos, já era o organista oficial da igreja de sua cidade, demonstrando o que o futuro lhe reservava.

Sem abrir espaço desnecessário a discussões sobre o destino, mas sem fugir ao seu intrincado mistério, Verdi iniciou amizade com Antonio Barezzi (1787-1867), um comerciante bem sucedido que lhe ajudou por incontáveis anos, e não apenas com fartas quantias de dinheiro, com as quais se formou em Milão, mas com zelosa adoração, qual um pai sempre preocupado com o seu bem-estar, estendendo-lhe igualmente afetos e carinhos capazes de sustentá-lo nos momentos áridos ao longo da vida. De tais “conspirações cósmicas” que unem as pessoas, levando-as a criar caminhos singulares, surgiu o romance, e o casamento com Margherita Barezzi (1814-1840), com quem teve dois filhos, falecidos precocemente, como ela própria, períodos de profunda tristeza na vida do compositor e maestro. Posteriormente, ele conheceu a soprano Giuseppina Strepponi (1815-1897), com quem conviveu durante quase quatro décadas.

Foram 28 óperas escritas com a típica profundidade exigida por Verdi, que repetia sobre a necessidade de refletir para compor. Óperas famosas como Rigoletto, La Traviata, Il Trovatore e Aida, dentre outras, atraíram o público por vezes aos muitos teatros, apesar de o maestro sempre ter o ‘Alla Scala’ em altíssima consideração desde muito cedo. Mas nem tudo foi um mar de rosas em sua extraordinária carreira, pois Verdi desejou nunca mais compor após ter sido fortemente vaiado em sua segunda ópera, ‘Um Giorno di Regno’, levando-o a sentir o gosto amargo do fracasso, ainda que temporário. Coincidentemente, suas músicas ganharam um vulto nacionalista, haja vista existir um intenso movimento de unificação italiano - Risorgimento -, encorajando o povo a lutar por tamanho objetivo, que culminou com a expulsão dos austríacos, e a posse de Vittorio Emanuelle (1820-1878) como líder do país.

Giuseppe Verdi ainda está vivo através de suas composições que tanto conseguem tocar a intimidade da alma, e que ainda são representadas nas ocasiões que os teatros encenam as óperas que fazem parte do que chamamos de cultura, elemento essencial ao desenvolvimento da nossa espécie, sobretudo por sua sofisticada capacidade de inspirar, elevar e transformar.

*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo e mestre em liderança.




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