segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Quando uma atitude digna nos representa

*Por Andréa Tartuce

No dia 10 de setembro, na cidade de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, um grito de resistência convocaria toda a advocacia do Brasil. Seu nome: Valéria Santos.

“Houve discriminação por ela ser mulher e por ela ser negra”, afirma a advogada Andréa Tartuce, com relação ao caso que envolveu a também advogada Valéria Santos | Foto: divulgação  
As imagens em vídeo e a cores, gravada em celular, revelaria mais do que este artigo e outros milhares já escritos poderiam revelar sobre a Justiça, a Sociedade e a Advocacia atual.

O fato revelou muito mais sobre mim mesma do que eu poderia imaginar. Eu, advogada, mulher, mãe e cidadã, fiquei em choque com um misto de indignação e dor quando assisti à outra mulher, mãe e advogada lançada ao chão e algemada, apenas por defender tudo aquilo que eu tão solenemente acredito, no direito, nas leis, nas prerrogativas.

Poucas pessoas entendem que a advocacia é um sacerdócio, e que o direito de nossos clientes é para nós, advogados e advogadas, sagrados. Por estes direitos somos capazes de lutar com todas as forças, por que a LEI nos concede esta força.

Dentre as inúmeras matérias que li sobre o caso, uma manchete me doeu profundamente e dizia: A Pior Justiça do Mundo! Me doeu porque não é verdade, pois, na militância diária da advocacia, milhares de profissionais como eu, alcançam todos os dias simbólicas vitórias, umas enormes, outras menores, que somadas chamamos de justiça.

Não é a justiça divina e perfeita, mas é a justiça possível, criada com o esforço sobrenatural de advogadas e advogados que acreditam que vale a pena ser lançado ao chão e correr o risco real das algemas para fazer valer o que é certo, o que é justo.

Contra os atos diários de tirania, temos como defesa, tão somente as prerrogativas e a união de nossa classe, o que se dá, indiscutivelmente, por meio de nosso órgão maior a Ordem dos Advogados do Brasil.

Na Constituição Federal e no Estatuto da Advocacia, Lei Federal, que encontramos a máxima que o advogado é indispensável à administração da Justiça. Mas se não estivermos unidos, como irmãs e irmãos de armas e devoção, vencerá a tirania do cotidiano, a arbitrariedade de quem se coloca acima da lei e, consequentemente, acima da humanidade.

Tive a honra de conhecer a Dra. Valéria Santos e ouvir pessoalmente seu relato. Digno, capaz, consciente. E alguém perguntou: “doutora, o que mais doeu naquela situação? Ser mulher, ser negra...?”. E ela, como uma rocha inabalável, respondeu: “na hora, só pensei que era a lei”.

Houve discriminação por ela ser mulher, por ela ser negra, mas o que a fez suportar, resistir e lutar, foi a alma e a convicção de Advogada.

E não tenho dúvidas que a justiça da qual é indispensável o advogado, ultrapassa as paredes frias de fóruns e tribunais, pois diante do heroísmo de nossa profissão, a sociedade caminha mais justa em todos os aspectos.

Por isso não temos a pior justiça do mundo, pois aqui há advogados e advogadas que não se deixam calar nem diante de ameaças.

*Andréa Tartuce é advogada, psicopedagoga, mestranda em Direito Acadêmico (Linha "Justiça e o Paradigma da Eficiência"), especialista em Direito Público Global, coordenadora da ESA-Santo André e secretária-geral da OAB Santo André para o triênio 2016-2018.


2 comentários:

  1. Parabéns !! Voce tem sido muito presente nesta gestão da OAB/SA, e suas ações diretamente responsáveis por muitas conquistas para a classe advocatícia.

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  2. Obrigada Andrex Almeida pelo carinho e reconhecimento!

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