quarta-feira, 3 de julho de 2019

Estou com medo de contar que estou grávida, mas a empresa é minha

*Dani Junco

Deixa eu te contar: gravidez e carreira não são desafios só para quem está no mundo corporativo. Há três anos, quando me aprofundei no universo das startups, percebi que existe um dado que ninguém está contabilizando: o número de fundadoras e CEOs que escondem a gravidez, durante rodadas de investimento, fusões e aquisições.

Cerca de 48% das mulheres são demitidas após a licença maternidade, segundo dados da FGV | Foto: Freepik

As histórias chegam para mim de um jeito aflito, como, por exemplo: "Dani, não posso falar nessa fase, não sei como o investidor reagiria. A equipe achou melhor esconder, mas estou me sentindo uma fraude e ainda deixando de honrar a felicidade que cresce em mim. Estou errada?". O que responder e como agir nessa hora? Eu acolho, dou um abraço e deixo meus canais de comunicação à disposição. Informo que, qualquer que seja a decisão, sempre terá meu apoio. Mas, também, convido a pensar que, ao esconder por medo, atrasamos uma transformação que precisa acontecer.

De acordo a pesquisa "Licença-maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil", feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), 48% das mulheres são demitidas após a licença maternidade. Cerca de 320 crianças nascem por hora no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo que o segmento voltado para o público infantil fatura R$ 50 bilhões por ano. Esses dados mostram que existe um paradoxo ao retirar do "jogo" quem precisa consumir quase três vezes o que consumia antes da maternidade. Fora o impacto emocional, que falaremos em outro momento.

O medo e a insegurança que as mulheres sentem ao pensar que serão demitidas, ou ainda, sofrer ao informar a empresa sobre sua gravidez estão bem claros. Mas o que impede essas empreendedoras e, principalmente, as startups, que normalmente precisam de investimento para escalar?

Outro levantamento feito pela Boston Consulting Group (BCG), em parceria com a MassChallenge (uma rede de aceleradoras norte-americana que oferece mentoria e recursos para startups), aponta que empresas fundadas por mulheres recebem muito menos investimentos se comparadas as criadas por homens, mesmo dando um retorno maior em receita a longo prazo. O BCG observou que em média as empresas de mulheres receberam US$ 935 mil, enquanto as companhias fundadas por homens receberam US$ 2,1 milhões.

Esse desequilíbrio existe por vários fatores, como por exemplo, existem menos mulheres na área de tecnologia, o que acarreta poucas startups fundadas por elas. Quero colocar uma luz no ecossistema em que estou, no qual vejo empresas escaláveis - que resolvem um problema real - e algumas já em tração com mais dificuldades em encontrar linhas de investimento no formato "normal". Acredito que, por isso, tantos movimentos de linhas de créditos e fundos estão se formando para fomentar somente negócios fundados por mulheres. Recortar ainda é preciso, e muito.

E quando uma delas dá os primeiros passos em direção à rodada, um momento full life, em que a CEO precisa estar presente, a gravidez vem com um recado de que, talvez, ela tenha que reorganizar suas prioridades. Então, deixa eu contar uma coisa sobre a maternidade para ver se entra em alguma sinapse aí:

1. Se crianças não nascem, seu dinheiro não faz sentido (acabou o mundo ok?);

2. A mãe não é a única pessoa responsável por criar a criança. Durante a amamentação essa dependência fica mais evidente, porém uma das primeiras consequências que aprendemos é desenvolver uma rede de apoio. E, pasme, você pode ser uma dessas pessoas;

3. Estamos no nosso estado mais criativo e produtivo, ainda mais em alertas e plenas, embora o caos da primeira infância exista. Estamos fazendo um ser humano sobreviver;

4. Quem nos acolhe nessa fase, com boa vontade ativa (que significa reorganizar agendas, por exemplo), vai experimentar um senso de compromisso e gratidão nunca visto, pois remetemos ao nosso filho esse carinho;

5. Estamos na quarta revolução industrial, pelo amor de Deus! Experimentando uma nova economia, na qual os maiores unicórnios do país têm em seus modelos de negócio foco em: comunidade, colaboração e compartilhamento. Meu irmão, essas palavras estão em cada célula do nosso corpo.

6. Outro ponto muito importe: a empresa é dela! Ela é a fundadora. Decidiu empreender seu sonho e agora chegou uma aceleradora natural. Afinal, nossos filhos nos dão uma energia dobrada para lutar pelo que acreditamos.

Por fim, nunca subestime uma mulher que deseja ser um exemplo para seu filho. Se ela já era "foda" antes, imagine agora. Ela não está mais sozinha. Somos metade da população do mundo e mães da outra metade.

E, minha amiga, se você está lendo isso e te brotou alguma coragem ou embargou um nó por aí, estou por aqui.

*Dani Junco é fundadora e CEO da B2Mamy, aceleradora que conecta mães empreendedoras ao ecossistema de inovação.

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