A Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo, sedia a estreia do espetáculo “Alfaces” na próxima segunda-feira (27), às 20h. O destino das protagonistas da peça, da Coletiva Olivias, que nasceu no Departamento de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (USP), é um improvável paraíso tropical. Lá, cada uma delas terá um "kit praia" para desfrutar do tempo inútil que lhes resta de vida.
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Peça fica em cartaz até 12 de junho, sempre às segundas e quartas-feiras | Foto: Anna Talebi |
Então, a comédia trágica, com toques de teatro do absurdo, é protagonizada pelas autoras e atrizes Gabrielle Távora, Marina Meyer e Paula Halker. No enredo que parece uma temporada de férias, essas ex-colegas de trabalho com nomes de flores não escapam ao pacote para mulheres vencidas: "Para você, mulher fora de época, ser feliz respeitando as nossas normas de conduta".
Com uma atmosfera surrealista, mas em que situações muito concretas do mundo contemporâneo se colocam, e sob o ponto de vista feminino, o espetáculo pretende desvendar as implicações sociais do sentimento de fracasso e sua relação com o machismo. Daí a imagem condensada no título da peça: a alface como símbolo da vida insossa, inerte e devotada a padrões inalcançáveis de beleza e de conduta.
"Friccionamos os materiais de várias formas e o público vai contar a história com a gente", explica Marina, sobre a dramaturgia, criada coletivamente a partir de experiências pessoais e também referências literárias e cinematográficas, como o livro O Mito da Beleza, de Naomi Wolf, e os filmes O Pântano, de Lucrecia Martel, e O Lagosta, de Yorgos Lanthimos.
Essa concepção horizontal de criação se estende à direção do espetáculo, que também é coletiva, e tem a orientação de Priscilla Carbone, cuja pesquisa de linguagem inspirada no filme As Pequenas Margaridas, da cineasta tcheca Věra Chytilová, aposta em recursos como a sobreposição de imagens e a colagem de cenas aparentemente sem ligação entre si.
Para essas atrizes-criadoras, depois de tantas discussões sobre gênero, as forças hegemônicas - majoritariamente masculinas - ainda preferem que as mulheres sejam "belas, recatadas e do lar". Ao exacerbar nas personagens essa existência apática, Alfaces a subverte.
A Oficina Cultural Oswald de Andrade fica na Rua Três Rios, 363, Bom Retiro, em São Paulo.
Obs.: acessível às pessoas com deficiência. O espetáculo fica em cartaz até 12 de junho, às segundas e quartas-feiras, sempre às 20h.
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