Que a mente controla a boca, não é novidade, mas essa relação é muito mais íntima do que se imagina. De acordo com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), cerca de 60% dos pacientes obesos sofrem de algum distúrbio psiquiátrico, sendo os mais comuns os transtornos de humor, como a depressão e a compulsão alimentar.
De acordo com a Abeso, o Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico (TCAP) está presente em cerca de 6% das pessoas obesas | Foto: Freepik |
A obesidade pode representar um símbolo visual dos insucessos físicos e psicológicos do indivíduo e, por isso, esses são fortemente estigmatizados. Essa não é uma regra, mas por ser constantemente identificada em pacientes que lutam contra a balança, é necessário levá-la em consideração na hora de definir um tratamento. De acordo com a associação, a psicoterapia pode fazer parte da estratégia integrada, redefinindo o estilo de vida e implicações emocionais da obesidade, assim como a atividade física, que possui efeito antidepressivo.
O nutricionista do Vigilantes do Peso, Matheus Motta, explica que, tentando sanar ambos os problemas, muitos indivíduos recorrem a meios sem eficácia comprovada. “Grande parte das pessoas que buscam emagrecer hoje, na verdade, lutam contra o peso durante toda a vida. Muitas delas já passaram por episódios em que foram confrontados com o seu peso ou condição física, provocando diversos efeitos psicológicos. Cansados, tanto do sobrepeso, quanto da carga emocional que ele carrega, elas tendem a optar por dietas da moda, altamente restritivas, que proporcionam uma perda de peso rápida, porém insustentável”, explica Motta.
É exatamente aí que o “efeito sanfona” passa a fazer parte do problema, agravando ainda mais as condições psicológicas e emocionais do indivíduo. “A relação entre corpo e mente também é comprovada nesse momento, já que o ‘efeito sanfona’, indiretamente relacionado à saúde mental , está associado ao surgimento de doenças crônicas, como a hipertensão e o diabetes”, complementa o nutricionista.
Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico (TCAP)
O TCAP traz danos físicos e psicológicos. Assim como os episódios de compulsão alimentar - ao qual todos estão sujeitos, a TCAP se resume a incidentes em que há a ingestão de grande quantidade de calorias num intervalo curto de tempo, com a sensação de perda de controle sobre o que e o quanto se come. Quando esses episódios passam a acontecer frequentemente, ao menos uma vez na semana, durante no mínimo três meses, ocorre o diagnóstico de Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico.
De acordo com a Abeso, o TCAP está presente em cerca de 6% das pessoas obesas. Quando falamos em pessoas que buscam por tratamento antiobesidade e se candidatam a cirurgias como a bariátrica, o percentual chega a 30% e 45%, respectivamente.
A enfermeira Maria das Graças, 58 anos, conhece bem essa realidade. “Cresci pensando que tudo se resolvia com a comida. O problema é que as celebrações deixaram de ser meu único motivo para comer demais e a prática se tornou um vício. Eu já comi 18 pedaços de pizza em um rodízio e, em certo período, comia uma caixa de bombom por dia. Até roubar comida dos colegas de trabalho eu já roubei! Era insaciável, começava a comer e não parava mais”, desabafa.
Então, a enfermeira aposentada conta que durante toda a vida buscou controlar o peso e que apenas após buscar ajuda psicológica e psiquiátrica teve sucesso. “Eu tinha consciência de que a compulsão era uma doença. Além da ajuda médica e da reeducação alimentar que o Vigilantes do Peso me proporcionou, também recebi grande apoio de um grupo de amigas que encontrei no programa. Tenho certeza que desta vez eu consegui por causa delas”, diz animada. Maria emagreceu mais de 19 quilos.
Para Motta: “A história da Maria é apenas um exemplo bem sucedido de como um tratamento multifatorial pode mudar o curso da vida das pessoas. É sempre bom lembrar que cada indivíduo tem suas necessidades, limitações e problemas e que, por isso, mesmo não é uma dieta da moda que irá curar a obesidade”, reforça. “É necessário ter ao lado uma equipe que te entenda, acolha e, acima de tudo, tenha conhecimento sobre a obesidade e a saúde mental”, finaliza o especialista.
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