quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Especialista comenta a escrita na era das mídias sociais

Redação

Há pouco tempo, uma grande preocupação das mães era como estimular a leitura e a escrita das crianças.  Hoje, bebês manuseiam celulares e tablets, acessam seus vídeos e jogos favoritos e têm contato com letras, números, hashtags e outros símbolos antes mesmo de se livrarem das fraldas. Todos estes avanços fazem com que as questões da escrita na era digital tenham um impacto muito diferente do que ocorria na era analógica e é preciso se adaptar a tudo isso, segundo a fonoaudióloga Malka Birkman Toledano, especialista em distúrbios da comunicação.

 "Na era digital, a autoria está desaparecendo. É cada vez mais difícil saber quem escreveu um texto, pois eles percorrem a internet instantaneamente”, alerta a fonoaudióloga Malka Birkman Toledano, especialista em distúrbios da comunicação | Foto: Freepik

"A leitura não depende da escrita, que, por sua vez, não é uma transcrição da fala. Ainda que interligadas, escrita e leitura são movimentos distintos do ponto de vista cerebral", comenta Malka.
Na atividade neurológica, a leitura depende de decodificação, que acontece a partir da nossa memória visual, enquanto o movimento de escrita, é o inverso: são ideias apresentadas em códigos, explica a especialista.

"Já as letras remetem a um som e, a partir de uma associação da memória visual com a memória auditiva, buscamos um significante, uma palavra que corresponda àquela escrita e a seu significado", diz a fonoaudióloga.

Então, a escrita é muito mais complexa. Não é por acaso que existem catalogados 10 mil idiomas no mundo inteiro. Destes, somente 10% têm registro escrito. Todos os demais, possuem apenas registros de oralidade.

Se a escrita é ativa, a leitura também o é. Não do ponto de vista da atividade motora, mas da atividade interna.  "Lemos letras, grafemas, que se tornam palavras com sentido a partir de nossas vivências", afirma Malka.

O leitor ativo da era digital
O leitor ativo, que mais do que compreender o que está lendo, tem ideias que remetem a outras ideias simultaneamente ao processo de leitura. Ele “conversa com o texto”.

"Cada um lê o seu texto e o compreende de acordo com a sua interpretação, baseada em sua vivência, em sua percepção. Ainda que em um mesmo idioma, em uma mesma norma, cada indivíduo lê o seu texto, porque temos o nosso filtro de vivências. Cada palavra, cada encontro de palavras têm ressonâncias diferentes em cada um, de acordo com cada experiência de vida", aponta Malka.

Por este motivo, após a leitura de um mesmo texto, as opiniões podem ser tão divergentes que parece que as pessoas leram textos diferentes. Estas diferentes interpretações são responsáveis, hoje em dia, por grandes discussões nas redes sociais e até mesmo em aplicativos de mensagens. Quem nunca protagonizou ou ao menos assistiu a uma discussão iniciada a partir de uma frase, uma piada, um comentário aparentemente sem importância?

Autores anônimos
Da mesma forma que na leitura, a escrita é influenciada por diversos aspectos individuais. Para escrever, precisamos não apenas dominar a norma culta, gramática e  ortografia, mas também deixar a nossa marca.

"Na era digital, a autoria está desaparecendo. É cada vez mais difícil saber quem escreveu um texto, pois eles percorrem a internet instantaneamente, deixando para trás sua origem. Assim, muitas vezes recebemos frases ou textos ótimos, porém não sabemos de onde vieram ou quem é o autor", alerta a especialista.

Não sabemos nem mesmo com quem estamos interagindo, visto que a internet não nos permite acessar informações básicas, como a região de origem de quem escreve, o gênero ou a idade.

"Alguns autores têm a sua marca e conseguem ser identificados ao longo de seus textos, mesmo antes de chegarmos à assinatura. É preciso refinar a nossa condição de escritores para que consigamos marcar a nossa autoria. E isso vale, inclusive, para os comentários. Quem comenta também é autor, pois mesmo que em poucas palavras, coloca seus valores, seu modo de pensar", finaliza Malka.

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